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Visão tribal da carreira policial federal despreza experiência e qualificaç&atil Postado em 10/09/2012 por SINPEFRN às 00:00

declarações do presidente da Associação dos delegados de Polícia Federal (ADPF), Leôncio Marcos Leôncio Sousa Ribeiro, em entrevista ao "Portal iG", revelam o pensamento autoritário e retrógado de uma parcela dos delegados, que se intitulam “classe dirigente” da Polícia Federal brasileira. Na visão primária do delegado, a Polícia Federal seria uma tribo indígena, onde uns mandam e outros obedecem.

O comparativo feito pelo delegado entre as carreiras do policial federal com a carreira militar demonstrou sua soberba e ignorância, tanto em relação à natureza do trabalho policial quanto à organização e hierarquia nas Forças Armadas. O presidente da ADPF fez analogia do cargo de delegado com o dos oficiais militares e dos demais cargos na PF com o dos praças (soldados e sargentos).

No Exército, por exemplo, a carreira do oficial começa na Academia Militar das Agulhas Negras, cuja seleção é feita através de um dos vestibulares mais concorridos do País. Após o curso de formação de quatro anos. Do posto de aspirante para alcançar a patente de major, são mais de 12 anos de carreira. As promoções a partir do posto de capitão são sempre por merecimento e antiguidade. O posto de coronel é atingido após mais de 20 anos de carreira e dezenas de cursos. A promoção a general é feito por escolha, de acordo com as vagas disponíveis.

As opiniões do representante classista dos delegados da PF também afrontam alguns dos princípios modernos de administração e de gestão pública: eficiência, transparência, experiência e meritocracia. Na sua lógica corporativista, o pré-requisito para assumir cargos de chefia na corporação seria a aprovação no concurso e no curso de formação na Academia Nacional de Polícia (com duração de quatro meses) e a posse como delegado na PF.

Ao defender uma estrutura funcional que despreza a experiência e aptidão para cargos de gestão, o representante dos delegados contraria a proposta do governo do PT para a Polícia Federal. Em 2003, ao assumir o cargo de ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos disse que a Polícia Federal merecia se tornar um “FBI”, referindo-se à polícia federal americana. Após nove anos da otimista previsão do ministro, chancelada pelo ex-presidente Lula, o modelo de gestão da PF teria regredido ao estilo de mando de uma tribo indígena.

O delegado-cacique presidente da ADPF é um exemplo de trajetória dentro da Polícia Federal. Há menos de dez anos na instituição, foi assessor do diretor-geral na Assessoria de Parlamentar da PF no Congresso Nacional, onde ao mesmo tempo fazia lobby na defesa dos interesses classistas de seu cargo. No início deste ano, o representante dos delegados da PF foi cedido para a Secretaria de Estado de Segurança Pública do Distrito Federal, onde é assessor do titular da pasta, Sandro Avelar, também delegado da PF e ex-presidente da ADPF.

 “Sem uma visão de gestão em segurança preventiva e com pouca experiência em investigações policiais, o delegado só podia achar que a Polícia Federal é uma tribo dividida em caciques e índios”, diz o presidente da Fenapef, Marcos Wink. Mais do que uma visão estreita do modelo de Polícia Federal, o quadro mostrado na reportagem retrata uma realidade vivida todos os dias por agentes, escrivães e papiloscopistas e servidores administrativos da PF.

“Para transformar essa concepção indígena de gestão da PF no modelo de eficiência policial do FBI, é preciso vontade política e ação. Com a palavra, o governo federal”, finaliza Wink.

Fonte: Agência Fenapef

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