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Um ministro na marca do pênalti Postado 20111019 por SINPEFRN às 00:00

Sob bombardeio intenso da oposição e até de setores da base governista, o ministro do Esporte, Orlando Silva, contava ontem com o apoio da presidente Dilma Rousseff, que elogiou sua disposição de prestar esclarecimentos ao Congresso. Ela disse, no entanto, que aguardará os desdobramentos das acusações e das investigações para traçar o futuro do ministro, responsável pela organização da Copa do Mundo de 2014. Mas o destino do ministro está nas mãos de sua capacidade de convencimento e de provar sua inocência, diziam ontem auxiliares da presidente, no Palácio do Planalto.

 

No primeiro dia de visita à África do Sul, Dilma frisou que respeita o princípio da presunção de inocência, porém, não assumiu pessoalmente a defesa de Silva. Admitiu que "no passado" foram firmados convênios com organizações não governamentais (ONGs) "frágeis" e sem o controle adequado.

 

Dilma conversou com Orlando Silva ainda no sábado, por telefone, quando a revista "Veja" chegou às bancas com as denúncias de desvio de recursos no Esporte, em convênios com ONGs ligadas ao PCdoB, partido do ministro.

 

- Não só nós presumimos a inocência dele, como ele tem se manifestado com muita indignação quanto às acusações. O governo está acompanhando atentamente todas as denúncias, os esclarecimentos e as investigações. Aliás, o ministro Orlando pediu investigação da Polícia Federal, do Ministério Público Federal sobre as acusações feitas a ele e que ele reputa uma injustiça. Além disso, se dispôs a ir ao Congresso Nacional. Enquanto isso, o governo vai continuar acompanhando tanto qualquer denúncia que apareça quanto todos os esclarecimentos e as iniciativas de investigações ---- afirmou a presidente, que, segundo um auxiliar, está "medianamente preocupada" com o caso.

 

Gleisi e Carvalho orientam ministro

Ontem, Orlando Silva se reuniu no Planalto com os ministros Gilberto Carvalho (Secretaria Geral da Presidência) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil). Foi orientando a ser convincente nos esclarecimentos:

 

- Mais do que se defender, Orlando precisa ser convincente. Não haverá uma segunda chance - resumiu um auxiliar da presidente.

 

Avaliação no governo identificou que dois pontos podem enfraquecer ainda mais a posição do ministro: a pressão externa de entidades, como a Fifa e o Comitê Olímpico Internacional (COI), e a possibilidade de surgirem novas denúncias envolvendo o programa Segundo Tempo. O Planalto teme ainda o poder de fogo do soldado da PM João Dias, o denunciante.

 

Embora seja usada a ponderação de que a "ficha corrida" de Dias enfraquece as denúncias, a preocupação é que possa surgir um fato novo. A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) já fora acionada para levantar dados sobre esse episódio. Em favor de Orlando Silva, ministros frisaram que o colega foi rápido ao apresentar sua defesa.

 

Na entrevista em Pretória, Dilma fez uma crítica velada à disseminação dos convênios com ONGs, porque seriam "menos formais" do que os acordos com prefeituras e estados, cujo controle "têm toda uma regulamentação". E aproveitou a nova crise envolvendo denúncias de desvio de dinheiro público para alertar todos os ministros, que até setembro deixavam essa responsabilidade nas mãos dos secretários-executivos de suas pastas.

 

- O ministro, a partir de agora, é o responsável pelo convênio. Então, a assinatura do ministro é que vai em qualquer convênio. Isso é importante ser esclarecido, porque nós consideramos que, em muitos momentos no passado, houve convênios com ONGs mais frágeis. O que nós detectamos é que, em geral, elas são menos formais do que prefeituras e estados. Eles (prefeituras e estados) são acompanhados pelos tribunais, você tem que prestar contas. A mesma coisa você teria de ter com as ONGs, só que como elas são as organização não governamentais, elas têm uma formalização menor. Agora, eu sempre digo: não é possível fazer tábula rasa. Você tem ONGs e ONGs - disse Dilma.

 

A presidente afirmou que, em alguns casos, a parceria com ONGs é imprescindível:

- Isso não significa que todo o convênio com ONG é ruim. Não é verdade. Pelo contrário: em muitas áreas, precisamos das ONGs para executar políticas e sem as quais muitos municípios não conseguem atender à população.

 

O ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, que está na comitiva de Dilma, defendeu Orlando Silva. Lembrou, no entanto, que suspendeu a assinatura de 92 convênios que estavam engatilhados em sua pasta, devido a fragilidade das ONGs.

 

- Vamos aguardar os fatos, e que se apresente alguma prova para que possa saber exatamente do que se trata. Seguramente, o governo vai esperar a defesa. Isso é um princípio básico da Justiça. Não pode julgar quem quer que seja sem o contraditório e o direito de defesa.

 

Fonte: FENAPEF

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