Atenta ao crescimento da quantidade de 
suicídios entre profissionais da segurança pública e aos registros deste
 tipo de ocorrência na Polícia Federal (PF), a Federação Nacional dos 
Policiais Federais (Fenapef) está dedicada ao tema durante este Setembro
 Amarelo. Pesquisa divulgada no final de agosto pelo Grupo de Estudo e 
Pesquisa em Suicídio e Prevenção (Gepesp), ligado à Universidade do 
Estado do Rio de Janeiro (UERJ), aponta que o número de agentes que se 
suicidaram mais que dobrou: os casos saltaram de 28, em 2017, para 67 no
 ano passado – um crescimento de 140%. Só na PF, levantamentos mostram 
que nos últimos dez anos (de 2009 a 2019) foram 32 suicídios.
A pesquisa do Gepesp e os dados 
consolidados pela Fenapef sobre suicídios na Polícia Federal revelam 
fatos semelhantes: a ampla maioria dos casos é registrada entre homens e
 a quantidade de tentativas de suicídios tem aumentado (de acordo com o 
Grupo de Estudo, dobrou de um ano para o outro, passando de seis 
tentativas, em 2017, para 14 em 2018).
Em 20 anos – de 1999 até 2019 – 
foram 49 suicídios mais 7 tentativas, na PF. Dos 49 casos, 27 foram de 
agentes. A maior quantidade de suicídios ocorreu no Distrito Federal 
(sete) e no Rio de Janeiro (sete), seguidos de Santa Catarina (seis) e 
Paraná (quatro).
Quando analisada a questão do gênero, do
 total de mortes (49) na Polícia Federal, apenas uma foi de mulher. E 
entre as sete tentativas de suicídio, cinco foram de homens e duas de 
mulheres.
“É um cenário extremamente triste e 
preocupante”, lamenta o presidente da Fenapef, Luís Antônio Boudens. 
Segundo ele, a Polícia Federal carece de políticas permanentes 
direcionadas a esta problemática.
“Não há ações de saúde e de acolhimento 
eficazes para policiais que já apresentam sinais de adoecimento – como 
depressão e ansiedade – nem iniciativas específicas durante os processos
 seletivos para ingresso na instituição, tampouco programas de bem-estar
 e melhoria da qualidade de vida no ambiente de trabalho”, pontua.
Conforme destaca o presidente da 
federação, 30% do quadro utiliza algum tipo de medicamento relacionado a
 questões psicoemocionais, segundo enquete realizada pela entidade em 
2016. Boudens também observa que é grande o número de afastamentos em 
regiões de fronteira.
“Áreas geralmente violentas e onde são 
lotados muitos dos recém-aprovados nos concursos da PF, sem treinamento 
adequado e suporte para se adaptarem a estes locais”, acrescenta.
AUDIÊNCIA COM MINISTRO –
 Preocupada com este cenário alarmante, a diretoria executiva da Fenapef
 solicitou no final de agosto, logo após a divulgação dos dados do 
Gepesp, audiência com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio 
Moro, ao qual a Polícia Federal é vinculada.
O objetivo da federação é reforçar para o
 ministro os pedidos de providências feitos pela entidade durante 
diferentes gestões da PF, especialmente o cumprimento de ações já 
previstas em portaria do próprio ministério.
Publicada em dezembro de 2010, a 
Portaria Interministerial SEDH/MJ nº 2 estabelece as Diretrizes 
Nacionais de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos dos Profissionais de
 Segurança Pública. O documento aponta dez medidas específicas de saúde 
que deveriam ser oferecidas aos servidores.
Entre elas, assegurar o acesso ao 
atendimento independente e especializado em saúde mental; desenvolver 
programas de acompanhamento e tratamento destinados aos profissionais de
 segurança pública envolvidos em ações com resultado letal ou alto nível
 de estresse; implementar políticas de prevenção, apoio e tratamento do 
alcoolismo, tabagismo ou outras formas de drogadição e dependência 
química; desenvolver programas de prevenção ao suicídio, 
disponibilizando atendimento psiquiátrico, núcleos terapêuticos de apoio
 e divulgação de informações sobre o assunto; criar núcleos terapêuticos
 de apoio voltados ao enfrentamento da depressão, estresse e outras 
alterações psíquicas.
“Medidas que a Direção Geral da PF 
(DG/PF) nunca executou de forma constante, efetiva”, alerta o presidente
 da Fenapef. “Só para se ter uma ideia da carência de ações eficazes de 
cuidado à saúde dos policiais, a DG/PF, em Brasília, conta com apenas 
seis psicólogos; número claramente insuficiente para o atual quadro e 
uma demanda crescente”, acrescenta Boudens.
Atualmente, em todo o país, são 
cerca de dez mil servidores em atividade na Polícia Federal, entre 
agentes, delegados, escrivães, papiloscopistas e peritos.
BATE-PAPO SEM TABU – 
Outra medida tomada pela Fenapef é a realização nesta próxima 
quinta-feira (12), em Brasília, da palestra “Felicidade e Produtividade 
no Ambiente de Trabalho”. O bate-papo é aberto à corporação e será 
realizado às 9h no Auditório do Instituto Nacional de Criminalística 
(INC) da Polícia Federal (Setor Policial), sob a condução do professor 
Wander Cléber Silva, da Universidade de Brasília (UnB).
“É preciso falarmos sobre este tema sem 
tabu, sem estigma”, defende Luís Antônio Boudens. “Antes de sermos 
policiais, somos seres humanos e não estamos imunes aos diferentes tipos
 de adoecimento; ainda mais em uma profissão com tão elevado nível de 
estresse”, completa.
A palestra “Felicidade e Produtividade 
no Ambiente de Trabalho” será realizada em parceria com o Sindicato dos 
Policiais Federais no Distrito Federal (Sindipol-DF), a Associação 
Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF), a Superintendência da PF
 no Distrito Federal e a Diretoria de Gestão de Pessoal (DGP) da Polícia
 Federal.
SETEMBRO AMARELO – 
Nesta segunda-feira (9) – véspera do dia Mundial de Prevenção ao 
Suicídio, estabelecido pela Organização Mundial da Saúde – a OMS 
divulgou relatório mostrando que é insuficiente a quantidade de países 
que contam com estratégias de prevenção ao suicídio. O Brasil está entre
 as 38 nações analisadas pela Organização que desenvolvem ações 
nacionais de enfrentamento ao problema. De acordo com a OMS, uma pessoa 
se suicida a cada 40 segundos no mundo.
PESQUISAS – Pesquisas encomendadas pela Fenapef e realizadas pela UnB nos anos de 2012/2013 e 2015/2016 mostraram que:
2012/2013:
- A depressão e a síndrome do pânico estavam entre as doenças que 
atingiam um em cada cinco agentes da Polícia Federal ouvidos no estudo. 
- 73 policiais foram questionados sobre os motivos das licenças 
médicas e 35% deles responderam que os afastamentos eram decorrentes de 
transtornos mentais, como depressão e ansiedade.
- Policiais entrevistados afirmaram estar desmotivados, com acúmulo 
de trabalho e passando por “terror psicológico” e/ou assédio moral.
2015/2016:
- 48% dos policiais entrevistados apresentaram “desânimo em relação ao futuro”. Destes:
- 47% tinham ideia de se matar;
- 49% manifestaram sintomas de depressão;
- 58% relataram desesperança.
FONTE: FENAPEF