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Ser policial no Brasil é uma atividade de alto risco Postado em 23/12/2016 por Sindicato dos Policiais Federais às 12:38

A atividade policial é altamente complexa, estressante, difícil e mal compreendida. O policial tem regime de trabalho totalmente diferenciado dos demais trabalhadores. Não é regido pela CLT. Não tem número de horas para trabalhar, nem horários fixos. Não recebe horas extras. Não tem horário para se alimentar. Entra de serviço sem saber quando vai terminar. Nunca pode assumir compromisso social e ter certeza de que irá cumpri-lo, pois, quando menos espera, tem que dobrar o horário, cumprir escalas extras imprevisíveis, cumprir trabalhos emergenciais. Estas são afirmações do especialista em segurança pública Nilson Giraldi.

Coronel da Polícia Militar de São Paulo, Nilson Giraldi, 83 anos, criou o Método Giraldi, aplicado em quase todas as PMs do Brasil, que aplica a doutrina do uso progressivo da força, inclusa a arma de fogo, com a finalidade de preparar o policial para servir e proteger a sociedade e a ele próprio, onde procedimento é regra, disparo é exceção. “O Método Giraldi é baseado nas neurociências, nas leis, nos Direitos Humanos, na Carta da ONU para o assunto, nos tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário, nas dificuldades financeiras das polícias brasileiras”, explica.

Trabalhando em média 12 horas por dia, ministrando cursos no Brasil e no exterior “por puro prazer e de forma gratuita”, atuando na Polícia Militar desde que se chamava Força Pública, ingressou como soldado e foi fazendo todos os cursos necessários até chegar a coronel.  “Sessenta e três anos de estrada combatendo o bom combate, mas ainda na corrida, e mantendo a fé”, afirma.

Segundo Giraldi, no Brasil, são assassinados, proporcionalmente em um ano, mais policiais do que nos Estados Unidos em 15 anos, uma estatística que, de acordo com ele, não há como comparar com países europeus, onde a violência contra o policial é quase zero. “No Japão, por exemplo, faz 46 anos que nenhum policial é assassinado. Já no Brasil, quando o policial sai de casa, sua família nunca sabe se é a última vez que o está vendo vivo”, diz.

Para ele, a profissão policial é a mais abrangente que existe, pois vai desde um parto feito no interior de uma viatura, aplicação de socorros de urgência, salvamentos de várias espécies e orientações à população até enfrentamentos a todos os tipos de problemas, incluindo o combate às drogas e confrontos armados com criminosos. “Quando em serviço, o policial sabe que está com a vida constantemente em risco, a morte sempre o está espreitando”, lamenta.

O especialista lembra, ainda, que ser policial no Brasil é uma missão difícil, pois o profissional carrega traumas profundos de companheiros assassinados, é presença constante em velórios de colegas, e sabe que corre o risco de ser ele o próximo. “Por melhor que faça, por mais que se esforce e se dedique, quase nunca é reconhecido, só criticado, e sem razão. Dele ainda é exigida a perfeição, que nunca falhe, como se o erro não fosse próprio do ser humano, e está presente em todas as profissões”, observa.

Todo esse cenário de tensão, descrito por Giraldi, provoca sobrecarga absurda no psicológico do policial. Ele alerta que a situação é tão grave que, na Polícia Militar de São Paulo, em torno de 30% do efetivo está em processo de separação matrimonial, e é entre os PMs em que está um dos maiores índices de suicídio. “A sobrecarga faz com que o policial viva estressado e no limite. Faz com que ele chegue a perder o amor e interesse pela vida”, alerta.

Método Giraldi

O Coronel Giraldi apresenta os índices do Método Giraldi, afirmando que, comprovadamente, reduziu em mais de 98% a morte de policiais em serviço, sendo que os outros quase 2% são as fatalidades, quase impossíveis de serem evitadas (execuções; o policial não tem sequer tempo de sacar sua arma); reduziu em 100% a morte de pessoas inocentes por policiais em serviço; reduziu em 100% a perda da liberdade do policial em virtude do uso incorreto da sua arma de fogo; reduziu em 100% a possibilidade de um projétil disparado pelo policial se transformar em “bala perdida”.
giraldi-foto

O coronel afirma que diante das atuais circunstâncias, do efetivo e dos meios dos quais dispõe, a polícia brasileira tem feito o máximo que pode para servir e proteger a sociedade, inclusive em setores que não são da sua competência em virtude da fragilidade dos seus gestores. “Se alguém duvidar do extraordinário trabalho que ela tem feito, mesmo com todas as suas dificuldades, tire-a das ruas por 24 horas e veja as consequências”, desafia.

O coronel Giraldi apresenta  propostas para a melhoria da atividade policial no Brasil, como investir na valorização do policial, dando a ele autoestima, além de mostrar à sociedade quem é o policial, para que seja respeitado e ainda respeitados os seus direitos humanos em face da complexidade e risco do seu trabalho, que Giraldi assegura serem mais amplos do que os do cidadão comum, necessitando equipamentos, treinamento, materiais, incluindo armas de fogo, e tecnologia de ponta à altura das suas necessidades para servir e proteger a sociedade. “Treinamento constante e correto. Treinamento não é gasto, é investimento. Uma polícia é consequência do seu treinamento”, prceitua Giraldi.

Leia a entrevista na íntegra:

Fenapef: Qual o diferencial da profissão policial em relação às demais profissões?

Cel.Giraldi: De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) a atividade policial é a segunda mais perigosa do mundo, e no Brasil é a mais perigosa. Essa atividade também é altamente complexa, estressante, difícil, mal compreendida, a mais abrangente que existe, pois vai desde um parto feito pelo policial no interior de uma viatura, aplicação de socorros de urgência relacionados a um sem número de situações, salvamentos de várias espécies animais, orientações, à população, relacionadas a todos os tipos de problemas que enfrenta, incluindo drogas; até confrontos armados com criminosos, e com a morte sempre presente.

O policial tem regime de trabalho totalmente diferenciado dos demais trabalhadores. Não é regido pela CLT. Não tem número de horas para trabalhar, nem horários fixos. Não recebe horas extras. Não tem horário nem dia para se alimentar. Entra no trabalho sem saber quando vai terminar. Nunca pode assumir compromisso social e ter certeza de que irá cumpri-lo, pois, quando menos espera tem que dobrar o horário de trabalho no qual já se encontra. Cumpre escalas extras imprevisíveis e trabalhos emergenciais.

Proporcionalmente, no Brasil são assassinados, em um ano, mais policiais do que nos Estados Unidos em 15 anos. Não há nem como comparar com países europeus. Japão, por exemplo, onde faz 46 anos que nenhum policial é assassinado. Quando o policial brasileiro sai de casa para o trabalho, sua família nunca sabe se é a última vez que o está vendo vivo.

Fenapef: Como você vê a questão do policial com relação ao estresse no trabalho?

Cel. Giraldi: O Brasil é o país mais violento do mundo, e não só a sociedade, mas também o policial é vítima dessa violência. Quando à trabalho, o policial sabe que está com a vida constantemente em risco. A morte sempre o está espreitando. Carrega traumas profundos de companheiros assassinados. É presença em velórios e mais velórios de companheiros assassinados e que pode ser o próximo. Trabalha com a parte da sociedade que é doente, constituída de famílias doentes. Por melhor que faça, por mais que se esforce, por mais que se dedique, quase nunca é reconhecido, só criticado, e, pior, sem razão. O policial sofre pressões de todos os lados. E ainda dele é exigindo perfeição, que nunca falhe, como se a falha não fosse própria do ser humano, e está presente em todas as profissões. Na vida só não falhou quem nunca viveu, a vida é risco.

Não confundir falha com erro; falha é involuntária, erro é voluntário. E isso tudo provoca uma sobrecarga terrível no policial. E essa sobrecarga que o policial recebe faz com que ele viva estressado e no limite. Faz com que ele chegue a perder o amor pela vida; desinteresse pela vida.  A situação é tão grave que, na Polícia Militar de São Paulo, em torno de 30% do seu efetivo está em processo de separação. É entre os policiais militares em que está um dos maiores índices de suicídio que se conhece.

Para evitar esses constrangimentos, e essas situações, há, no Método Giraldi, capítulo especial denominado “Investimento e Valorização do Capital Humano do Policial”, cuja finalidade é ensinar o policial a estar de bem com a vida e assim ficar blindado contra os males da própria vida, considerado, internacionalmente, como o capítulo mais importante do Método. Integrando esse capítulo estão os exercícios de relaxamento necessários para combater o estresse, e o que mais é necessário fazer para combater o estresse, e cujos resultados são extraordinários.

Fenapef: Em que consiste o Método Giraldi?

Cel. Giraldi: O Método Giraldi não é uma simples instrução de tiro, mas uma doutrina do uso progressivo da força, inclusa a arma de fogo, com a finalidade de preparar o policial para servir e proteger a sociedade e a ele próprio, onde procedimento é regra, disparo é exceção. Ensinar o policial a regressar, íntegro, ao sei da sua família, após uma jornada de trabalho, e não para o necrotério, para uma cadeira de rodas ou para a prisão.

O Método Giraldi é totalmente baseado nas neurociências, nas leis, nos Direitos Humanos, na Carta da ONU para o assunto, nos tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário, nas dificuldades financeiras das polícias brasileiras. É simples, prático, barato, objetivo, de fácil aprendizado, ao estilo do trabalho e do respeito dos policiais. Não exige materiais nem locais sofisticados para o seu treinamento. Pode ser praticado, da mesma forma, em qualquer lugar.

Tem como principal fundamento os reflexos condicionados positivos, a serem obtidos pelo policial em treinamentos imitativos da realidade, com eliminação dos negativos, antes de se ver envolvido pelo fato verdadeiro, onde o disparo é a última alternativa, medida extrema para preservar vidas inocentes, incluindo a do policial, que é prioridade. Violência nunca. Força a necessária para o agressor a lei.

O Método Giraldi é como futebol, natação, ciclismo, atletismo… só se aprende praticando; não há teoria, exposição, projeção, blá, blá, blá que o ensine. Parte do princípio de que o que eu ouço, eu esqueço; o que eu vejo, eu lembro; o que eu faço, eu aprendo”. O campo de treinamento do Método Giraldi é um prolongamento do campo de trabalho do policial e o campo de trabalho do policial é um prolongamento do seu campo de treinamento.

O policial tem que treinar com a mesma arma, munição, equipamentos etc., com os quais trabalha ou irá trabalhar. De acordo com as neurociências, treinar de uma forma e atuar de outra é tragédia na certa. É semelhante à corrida de Fórmula 1. Esses são os motivos pelos quais o Método Giraldi não aceita, em nenhuma hipótese, “treinamento virtual”, com “airsoft”, “paint ball”, ou qualquer outro meio que por ele não esteja previsto.

Policiais Federais no Curso de Formação de Professores do Método Giraldi, em Baurú/SP – Cel.Giraldi ao centro (camisa cor de laranja clara)

 


Fenapef: Qual a eficiência do Método Giraldi quando colocado em prática?


Cel. Giraldi: Comprovadamente o Método Giraldi:


  1. Reduz em mais de 98% a morte de policiais em serviço; os outros
    quase 2% são as fatalidades, quase impossíveis de serem evitadas
    (execuções; o policial não tem sequer tempo de sacar sua arma);

    2. Reduz em 100% a morte de pessoas inocentes provocada por policiais em serviço;

    3. Reduz em 100% a perda da liberdade do policial em virtude do uso incorreto da sua arma de fogo;

    4. Reduz em 100% a possibilidade de um projétil disparado pelo policial se transformar em “bala perdida”;

    5. Em 1999, sem o Método Giraldi, 318 policiais militares foram
    assassinados, em serviço, no estado de São Paulo, com previsão para em
    torno de 450 em 2009 (dez anos depois). Com a aplicação do Método foram
    12. Nos últimos anos, variou de 6 a 8, todos executados. Sequer tiveram
    tempo de sacar sua arma.

    6. Refém tomado: em todos os casos em que as normas do “Método Giraldi”
    foram e são aplicadas os resultados foram e são: vítima ilesa, agressor
    preso, polícia aplaudida, policial regressando, íntegro, ao seio da sua
    família. Isso não ocorria antes dessas normas.

    7. E desde a sua implantação, na PMESP, nenhum policial militar que o
    aplicou foi punido ou condenado pelas suas consequências, inclusive
    quando o agressor foi a óbito. Nesse período, os confrontos armados mais
    do que triplicaram. Os casos de reféns tomados quadruplicaram, e os
    agressores se tornaram muito mais bem armados, organizados, agressivos e
    perigosos.

Fenapef: Quais locais em que já ministrou os cursos para aplicação do método?


Cel.Giraldi: Sempre de
forma gratuita, e com maior intensidade, na PMESP, mas não apenas para
seus integrantes, mas também para integrantes de outras polícias
brasileiras; para integrantes de polícias latinas, canadenses,
americanas, europeias que nela compareceram e comparecem para aprender o
Método. Também para integrantes das Forças Armadas para, como “força de
paz” (polícia), e não como “força de guerra”, atuar em missões de paz,
tanto no Brasil como no exterior. Também do DPF (ver foto, anexa, de uma
equipe sua que, recentemente, fez o curso diretamente com o Coronel
Giraldi, ao centro).


Para magistrados, promotores públicos;
autoridades as mais diversas; ouvidores de polícia; integrantes de
órgãos de divulgação, incluindo TV, e outros, no chamado “Curso
Demonstração do Método Giraldi”. Fora da PMESP, em vários outros estados
e países, sempre de forma gratuita, mas não apenas eu, mas também
professores do Método Giraldi, pois divido com eles essas missões.


O CICV tem patrocinado cursos do Método
Giraldi para policiais da América Latina, realizados não só na PMESP,
como em outros países, com ou sem minha presença, mas, certamente, com
professores do Método pertencentes à PMESP.


O Método Giraldi integra cursos de
Direitos Humanos patrocinados pelo CICV. Faz parte dos seus currículos. O
último foi no Equador (o sexto ali realizado para policiais da América
Latina; também em outros países, inclusive na PMESP). Professores do
Método, da PMESP, ali estiveram para ministrá-lo.


Fenapef: Quais são as polícias do Brasil que já adotaram o método?


Cel. Giraldi: Com maior
ou menor intensidade praticamente todas, pois não houve, até agora, uma
só que não tivesse enviado integrantes seu até a PMESP para aprendê-lo.
Inclusive, o Ministério da Justiça, por meio da SENASP, já patrocinou
treze cursos do Método Giraldi, na PMESP, para integrantes de todas as
polícias brasileiras.


Eu não faço o acompanhamento dessa
intensidade, apenas fico à disposição dos interessados para quaisquer
esclarecimentos. Também não acompanho o desempenho dos policiais, de
outros países, que compareceram, ou comparecem ao Brasil para
aprendê-lo. Esclareço que sua implantação, em qualquer polícia, demora
muitos anos, pois há necessidade de mudar toda uma cultura centenária
que só provocava e provoca tragédias, e não estava ou está à altura das
necessidades da sociedade, das polícias e dos policiais com a finalidade
de servi-la e protegê-la.


Fenapef: Em suas palestras você fala do aspecto psicológico do trabalho policial. Poderia comentar sobre o assunto?


Cel. Giraldi: Antes,
durante e após um confronto armado o policial tem que atuar com técnica,
com tática, com psicologia, e dentro dos limites das leis. E aplicando
os aspectos psicológicos, já aprendidos em treinamentos imitativos da
realidade; também em experiências anteriores, o policial consegue ter
uma ideia, antecipada, de quais são os propósitos do agressor,
incentivar e colaborar com esses propósitos caso sejam saudáveis; ou se
antecipar à execução desses propósitos, ou demover o agressor das suas
intenções, caso não sejam saudáveis. Isso é muito comum durante
verbalizações e negociações em ocorrências policiais, ocasiões em que o
policial usa muito aspecto psicológico para obter a confiança do
agressor e conduzir a ocorrência policial para um final feliz (vítima
ilesa, agressor preso, policial aplaudido e regressando, íntegro, ao
seio da sua família).


Inclusive há capítulo do Método Giraldi,
denominado de “Análise de Casos Reais”, que analisa, minuciosamente,
tudo o que ocorreu durante um determinado confronto armado, incluindo o
aspecto psicológico, o que foi feito de forma correta, as falhas, como
foi a conduta dos policiais, do agressor, e o que fazer para que a
atuação dos policiais seja mais perfeita no próximo. Não esquecer que
somos consequência das nossas experiências.


Fenapef: Como analisa as situações de estrito cumprimento do dever legal e da legítima defesa na reação policial?


Cel. Giraldi: Não há um
só país no mundo onde o instituto da legítima defesa, própria ou de
outros, por parte do policial, não esteja prevista em seus códigos;
também no Brasil. O policial não dispara contra o agressor porque quer,
mas porque é obrigado. A finalidade desse disparo é preservar vidas
inocentes, incluindo a sua. A lei assim o determina. Se não o fizer,
será processado por omissão.


É o agressor que, com sua atitude de
morte, contra a sua vítima, incluindo o policial, o obriga a fazê-lo. O
policial não dispara contra o agressor para matá-lo, mas para tentar
fazer cessar sua ação de morte contra a sua vítima, embora o mesmo possa
vir a óbito. Isso porque, durante um confronto armado, não há tempo nem
condições de o policial escolher pontos de acerto no agressor. Dispara
na direção da sua silhueta, pois tudo é movimento, rapidez. A morte
sempre presente. A vida em risco.


Fenapef: Quais propostas para melhoria da atividade de policiamento nos estados?


Cel.Giraldi: Dentro das
atuais circunstâncias, do seu efetivo, e meios dos quais dispõe, a
polícia brasileira tem feito o máximo que pode para servir e proteger a
sociedade, atuando, inclusive, em setores que não são da sua competência
em virtude da fragilidade dos seus responsáveis. Se alguém duvidar do
extraordinário trabalho que a polícia brasileira tem feito, mesmo com
todas as suas dificuldades, tire-a das ruas por 24 horas e veja as
consequências.


Mas ela ainda pode fazer mais e, para isso é necessário:

1. Que todos os setores que integram a segurança pública, dos quais
trataremos no próximo quesito, façam a sua parte, pois a polícia,
sozinha, não vai a lugar algum.

2. Efetivo compatível com as suas necessidades. Atualmente não chega à metade disso.

3. Materiais e tecnologia de ponta. Atualmente está muito aquém do que necessita. Quem exige tem que dar os meios.

4. Armas de fogo à altura das suas necessidades para servir e proteger a
sociedade e seus próprios integrantes. nenhuma arma de fogo, da polícia
brasileira, é própria para essas finalidades, à exceção da arma de
porte da PF. A solução é obter a autorização do Exército para que as
polícias brasileiras façam licitação internacional para suas aquisições e
autorização para, quando for o caso, fazer essas aquisições com base na
Lei de Inexigibilidade.

5. Leis que deem sustentação ao seu trabalho. As atuais são frágeis.

6. Que as polícias cumpram apenas suas obrigações constitucionais. Em
média, 40% dos seus atendimentos não são da sua obrigação, mas de outros
setores.

7. Investir e valorizar o policial e dar autoestima ao policial
acrescentando a matéria “Investimento e Valorização do Capital Humano do
Policial”, prevista no Método Giraldi, em todos os currículos de
formação, especialização, aperfeiçoamento e manutenção com a finalidade
de ensiná-lo do que fazer para estar de bem com a vida e assim ficar
blindado conta os males da própria vida. Totalmente baseada nas ciências
e nas neurociências, essa matéria tem 100% de aprovação, com louvor,
por parte dos policiais que a aprendem.

8. Mostrar à sociedade quem é a polícia. A sociedade não conhece a
polícia, por culpa da própria polícia. Esse é um dos motivos pelos quais
parte da sociedade não tem simpatia pela polícia.

9. Mostrar à sociedade quem é o policial. A sociedade não sabe quem é o
policial, que o policial, antes de ser policial, é um ser humano que
chora, ri, ama e é amado. É pai, filho, esposo, irmão, amigo, tem
família. Não vem do nada e volta para o nada como muitos pensam. Tem
sentimentos. Não é uma máquina insensível. Tem dignidade. Tem limitações
como todas as pessoas. É gente!

10. Que os direitos humanos do policial, em face da complexidade e risco
do seu trabalho, sejam mais amplos do que os do cidadão comum,
necessitando equipamentos, treinamento, materiais, incluindo armas de
fogo, e tecnologia de ponta à altura das suas necessidades para servir e
proteger a sociedade, o que nem sempre tem.

11. Treinamento constante e correto. Treinamento não é gasto, é investimento. Uma polícia é consequência do seu treinamento.

12. Treinamento idêntico destinado às polícias fardadas e civis em áreas
de atuação comum, o principal deles é sobre o uso da força e da arma de
fogo – o maior problema de todas as polícias do mundo. Em torno de 95%
de todos os problemas graves de uma polícia são causados pela má
aplicação do uso da força e da arma de fogo. E qual seria esse
treinamento? De acordo com o CICV, DDHH, Polícia Comunitária
Internacional, SENASP, especialistas e organizações nacionais e
internacionais, incluindo especialistas da ONU, policiais de modo geral,
autoridades, etc., é o Método Giraldi, totalmente científico e baseado
nas neurociências, e que está à disposição de todas as polícias e
policiais de forma gratuita.

13. Manutenção e constante aperfeiçoamento de um serviço de inteligência
e informações, o mais profissional possível. sem um serviço de
inteligência e informações  profissional e capaz qualquer polícia
permanece amadora e acaba atuando na base do improviso.

14. Maior e mais efetiva integração entre as diversas polícias. Essa
integração as fortalece e é útil para a sociedade e para as próprias
polícias.

15. Maior e mais efetiva integração dentro das próprias polícias. Isso
nem sempre ocorre provocando divisões prejudiciais ao seu trabalho e à
sociedade.

16. Maior e mais efetiva integração e maior proximidade entre a polícia e a sociedade. Imprescindível.

17. Maior e mais efetiva colaboração da sociedade para com a polícia, incluindo denúncias. Imprescindível.

18. Melhor salário aos policiais, compatível com a complexidade das suas
atividades, perigo a que estão constantemente submetidos, estresse que
lhes causa, vida anormal que são obrigados a levar, ausência física e
sacrifícios relacionados às suas famílias que essas atividades impõem, e
muitas outras situações que o cidadão comum nem de longe imagina
existir.


Fenapef: O que espera ver concretizado na segurança pública do país?


Cel. Giraldi: Em
primeiro lugar é necessário saber que é segurança pública. E a resposta
mais simples que posso oferecer é: segurança pública é tudo aquilo que o
estado faz, manda fazer, e recomenda que as pessoas façam para dar
segurança ao cidadão. Segurança pública é muito mais um problema social
educacional do que policial penal. Só se torna policial penal, quando o
social educacional falha. Portanto, segurança pública não é a polícia, e
a polícia não é a segurança pública.


É muito cômodo dar à polícia a condição
de única responsável pela segurança pública como se ninguém mais por ela
tivesse responsabilidade. E porque a polícia é tão cobrada como se
fosse a única responsável pela segurança pública? Porque, de todos os
setores que são responsáveis pela segurança pública, é o único que
trabalha no meio do povo, visto pelo povo, 24h por dia, todos os dias do
ano, faça sol, chuva, frio, calor, e em todas as situações de
intempéries e circunstâncias adversas, à qual 100% desse povo têm
acesso, inclusive em domicílio, e de forma gratuita.


Para entender melhor que é segurança
pública e polícia basta imaginar um time de futebol. O time da segurança
pública, cada jogador com suas missões, todos transversalizados e
dependentes uns dos outros, responsabilidades compartilhadas.

E qual é a posição que a polícia ocupa nesse time? É o goleiro, a última
barreira. Pode um time jogar só com o goleiro? Isto é, pode a polícia
atuar sozinha?


No entanto, é mais fácil, cômodo,
simples, prático, politicamente correto responsabilizar apenas o goleiro
(a polícia) pela segurança pública do que também os outros jogadores.
Isso é insanidade.


Fenapef: E quais seriam os outros jogadores do time da segurança pública?


Cel. Giraldi: Muitos; mais de 60. Citaremos apenas alguns, como:

1. Combate às causas da violência e da criminalidade (não ocorre).

2. Justiça em todos os sentidos (justiça traz paz; injustiça traz revolta e violência).

3. Investimentos sociais e educacionais (raramente se vê).

4. Investimento na polícia (quem exige tem que dar os meios; isso tem ocorrido?).

5. Famílias e lares sólidos (a família é a célula mater da sociedade;
famílias doentes geram uma sociedade doente, e nenhuma polícia do mundo
consegue curar uma sociedade doente).

6. Educação dos lares (educar é ensinar para a vida, mas nem sempre pais
têm condições de dar a educação que seus filhos necessitam, e isso fará
falta, para eles, pelo resto das suas vidas; e a educação é a base
fundamental e estrutural de uma nação. Sem ela, nada se consegue).

7. A escola como complemento da educação do lar (raramente ocorre).

8. Espiritualidade (é ter Deus em tudo que o pensa, fala e faz. Isso está escasso hoje em dia).

9. Responsabilidade dos pais (amando e educando seus filhos; sendo
exemplo, modelo e referência para seus filhos; sendo amigo dos seus
filhos; participando da vida dos seus filhos; estando sempre à
disposição dos seus filhos etc.).

10.Participação das prefeituras (levando, principalmente à periferia,
saneamento básico, água, luz, esgoto, calçada, guia, sarjeta, asfalto,
iluminação pública, limpeza, esporte, cultura, lazer, educação, e outras
necessidades, a fim de dar autoestima à população. A falta de
autoestima é um dos fatores que desencadeia a violência e a
criminalidade).

11. Transformação de bairros problemáticos em bairros educadores (onde
todos os esforços públicos e privados são unificados para promover o
capital humano dos moradores desses bairros e assim lhes dar
autoestima).

12. Emprego (o desemprego provoca desespero de muitos que acabam partindo para a criminalidade e a violência).

13. Políticas públicas em benefício dos jovens ociosos, principalmente
nas periferias (ociosidade é estímulo ao crime e à violência. Cabeça
vazia é oficina do Diabo).

14. Políticas públicas, em harmonia com a sociedade, para tirar os
menores das ruas (infelizmente, os menores que vemos hoje nas ruas,
maltrapilhos, abandonados, pedindo esmola, muitas vezes já usando
drogas, têm tudo para ser os criminosos de amanhã).

15. Ausência de crises econômicas (a violência e a criminalidade acompanham as crises econômicas, no mesmo sentido).

16. Inclusão social (nossa exclusão social é alta, podendo advir, daí, violência e criminalidade).

17. Autoestima (é um dos fatores inibidores da violência e a criminalidade).

18. Álcool (álcool e violência caminham de mãos dadas; no nosso país em
torno de 22% da população é alcoólatra, isto é, bebem álcool em
excesso).

19. Leis Penais e Processuais à altura das necessidades da sociedade e
da justiça (infelizmente as atuais são da década de 1940);

20. Punibilidade (a impunidade é o maior incentivo à violência e à
criminalidade. No nosso País apenas 1% dos autores de homicídios, roubos
e estupros cumpre pena. Manter os lobos soltos é penalizar as ovelhas).

21. Certeza do cumprimento da pena por parte do condenado (isso não ocorre. É um grande estímulo ao crime e à violência).

22. Reincidência criminal (a do Brasil é a mais alta do mundo. O criminoso não tem medo das leis).

23. Sistema criminal (o nosso é velho, ultrapassado, anacrônico, não funciona).

24. Sistema prisional (idem).

25. Ressocialização do condenado (dificilmente ocorre. Normalmente o condenado sai da prisão pior do que entrou).

26. Vagas carcerárias necessárias (não existem. a maioria dos nossos presídios se transformou em depósitos de encarcerados).

27. Celulares no interior dos presídios (aos montes, facilitando encarcerados comandar o crime e a violência do lado de fora).

28. Indulto, saída provisória, regime semiaberto, liberdade condicional,
progressão da pena (medidas justas, mas por falhas das leis também são
concedidas a quem não o merece, e muitos, assim que são postos em
liberdade, voltam a cometer crimes).

29. Idade entre 16 e 26 anos (é o período em que a violência e a
criminalidade se apresentam com maior intensidade. É aqui que o Estado, a
sociedade, os pais, e as pessoas têm que concentrar ainda mais sua
atenção, mas isso, normalmente, não ocorre).

30. Dependência química (alimentando o tráfico, o crime organizado  e a
violência. O Estado, a sociedade e as famílias, normalmente, não sabem
lidar com a dependência e a codependência química).

31.Prevenção (é preciso reforçar o lado da prevenção, a começar de dentro dos lares).

32.Perícia forense (principal fonte de prova para qualquer condenação. Necessita de apoio, materiais e tecnologia de ponta).

33. Criminalística e medicina legal (sem elas as provas contra acusado
também se tornam frágeis. Necessita de apoio, materiais e tecnologia de
ponta).

34. Promotores de Justiça em número suficiente (não há, e são eles que dão vida às leis).

35. Magistrados em número suficiente (não há. São milhões de processos mofando nas prateleiras dos tribunais brasileiros).

36. Juiz da infância e da juventude em número suficiente (não há).

37. Excesso de recursos (tudo vai parar no STF saturando seus ministros).

38. Pesquisa e gestão sobre segurança pública (praticamente não existe).

39. Diagnósticos importantes (com base nos diagnósticos é que se aplicam
medicamentos, isto é, diagnosticado o lado doente da segurança pública
verifica-se que é necessário para curá-lo).

40. Inclusão da Segurança Pública na área de conhecimento e pesquisa
(tem que ser transdisciplinar, transversalizada, e não isoladas. Sem
isso é impossível tratar de forma correta a segurança pública).

41. Colaboração da sociedade para com as instituições policiais (sem
essa colaboração, incluindo denúncias, a polícia terá dificuldades em
fazer a sua parte).

42. Políticas agrárias, habitacionais e trabalhistas (se não forem corretas provocarão violência, criminalidade).

43. Descuido das pessoas (atraindo a violência e a criminalidade contra si).

44. Fiscalização rigorosa, das fronteiras, portos e aeroportos, a fim de evitar a entrada de drogas e armas no país.

45. Prepotência dos que têm contra os que não têm (gerando violência dos que não têm contra os prepotentes).

46. Humilhação (gerando vingança de quem é humilhado).

47. Ostentação (provocando a revolta dos que não têm).

48. Discriminações as mais diversas (provocando reações violentas). E
muitos outros “jogadores” todos fazendo parte do time da segurança
pública. Assim como a polícia (o goleiro) o faz.


Fenapef: Quais desses setores retro citados são da responsabilidade da polícia?


Cel. Giraldi: Cada
jogador que não cumpre suas obrigações sobrecarrega o goleiro (a
polícia). O goleiro (a polícia) sozinho (sozinha) não vai a lugar
algum. Se a sociedade pudesse ver, com clareza, os outros jogadores do
time da segurança pública em atividade, como vê a polícia, ficaria, em
grande parte, decepcionada com as atuações de muitos desses jogadores, e
passaria a cobrar mais, exigir mais deles, e não apenas do goleiro (da
polícia) como o faz atualmente. E uma boa segurança pública não se obtém
da noite para o dia, mas por meio de muitos anos de esforço e dedicação
por parte do Estado (nação, estados, prefeituras), da sociedade e das
pessoas.


A realidade é gravíssima: o Brasil
dobrou sua população nos últimos 30 anos. A mulher analfabeta brasileira
tem em média sete filhos, nem sempre do mesmo pai, e a mulher instruída
1,2.  Em torno de 20% dos jovens entre 16 e 26 anos nem estudam nem
trabalham. Nosso planeta não tem condições de abrigar, em condições
satisfatórias, mais do que 1 bilhão de habitantes. Está chegando a 8
bilhões. Chegará a 15 bilhões e, com certeza, absoluta, o Brasil está e
será fortemente afetado com isso. Resultado: a tendência da segurança
pública, no Brasil, é piorar; principalmente se a polícia, na opinião de
insanos, e de quem tem poder para direcioná-la ao que é correto, mas
não tem coragem para fazê-lo, continuar a ser considerada como única
responsável por ela.


Fenapef: Qual a solução para a segurança púbica brasileira:


Cel.Giraldi: Que cada
um dos “jogadores” retro citados, e outros que também estão jogando, mas
não foram mencionados, façam a sua parte. Deixar apenas o “goleiro” (a
polícia) como único responsável pelo time (pela segurança pública) é, no
mínimo, insanidade, um tremendo desconhecimento da realidade, uma forma
vil e ultrajante de desmoralizar uma classe que, embora não seja
perfeita, como todas as outras também não o são – que vai além dos seus
limites, que não tem o que necessita para servir e proteger a sociedade,
que tem em torno de 270 integrantes seu, para cada grupo de cem mil,
assassinado por ano, quando em defesa da sociedade, quando o da
sociedade, como um todo, é de em torno de 28 -, merece um pouco mais de
consideração e respeito por parte de quem assim não a vê. No entanto,
décadas após décadas, o Estado insiste em fazer sempre as mesmas coisas,
esperando resultados diferentes.  Einstein dizia que fazer sempre as
mesmas coisas esperando resultados diferentes é insanidade.


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*Nilson Giraldi é Coronel da Polícia
Militar do Estado de São Paulo, especialista em: “Formação da
personalidade e suas consequências”. “Amor”. “Educação”. “Orientação aos
Jovens”. “Investimentos Sociais e Educacionais”.  “Educação Sexual”.
“Violência: Causas, Estímulos, Soluções, Medidas Preventivas”. “Drogas,
Dependência e Codependência Química”. “Segurança Pública e Polícia”. “O
Policial Militar e Sua Segurança Pessoal”. “Gerenciamento de Crises”.
“Negociação”. “Uso Progressivo da Força”. “Polícia Comunitária”.
“Direitos Humanos”. “Direitos Humanos do Policial”. “Investimento e
Valorização do Capital Humano do Policial”. “Relacionamento Familiar e
Humano”. “Harmonia Conjugal”. “Qualidade de Vida”. “Treinamento
Autógeno”. Autor do “Método Giraldi”®. “Diferença, Treinamento,
Armamento e Finalidade das Forças Armadas (“Força de Guerra”); da
Polícia (“Força de Paz”); da Justiça (“Força de Justiça”); do Tiro
esportivo de competição (“Força de Competição”). “Armas de fogo para
todas as finalidades”. “Armamento Material e Tiro”. “Competições
esportivas de Tiro”. E outras. Também das “Neurociências relacionadas e
aplicadas a todas essas áreas”. Atua como professor, Assessor, Consultor
e Palestrante nacional e internacional dessas áreas. E todo o seu
trabalho é gratuito.

Agência Fenapef

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