A ex-ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Ellen Gracie disse nesta quarta-feira (5) que a Justiça brasileira não “promove todas as condenações que a população gostaria” por causa da polícia, que está “defasada”. “Que culpa tem o Poder Judiciário se não promove todas as condenações que a população gostaria? O que pode fazer a Justiça se os dados da investigação muitas vezes não estão concretos ou se as provas não estão formadas?”, questionou.
“Nós tivemos um processo de redemocratização recente, passamos por um período autoritário e aconteceram efeitos colaterais indesejados. Quando houve redemocratização, houve rechaço de tudo o que estava relacionado às forças policias e às forças armadas. Essas forças passaram a um segundo patamar na ordem de prioridade de investimento. A partir daí tivemos deterioração desses sistemas que são absolutamente necessários. Pouco a pouco as pessoas melhores dotadas foram deixando de procurar a polícia. Os quadros (de funcionários) já não correspondiam aos de melhor qualidade por conta da baixa remuneração e da deterioração do seu status social. Então o crime passou a estar muito bem organizado”, opinou.
Além da ex-ministra, participaram do mesmo debate a chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, delegada Marta Rocha, a antropóloga e diretora geral do International Center for the Prevention of Crime, Paula Miraglia, o arquiteto Alejandro Echeverri e a professora de ciências políticas da Universidade de Sorbonne, na França, Sophie Body-Gendrot. Como integrante da Polícia Civil desde 1983, Marta, por sua vez, apontou que a situação da segurança pública no Brasil é fruto de “políticas de governo” que exigiam resultado de quatro em quatro anos. Para a delegada, o País vive o momento em que precisa escolher qual polícia quer.
“Durante muito tempo a segurança pública foi tratada como política de governo. Tinham que ser alcançados resultados de quatro em quatro anos, não era uma política de estado. A decisão do que era a política de segurança tinha ideologia política e não necessariamente técnicos eram chamados para se manifestar. Não há mais espaço para amadorismo na segurança publica. Acho que é esse o momento que estamos vivendo que nós policiais precisamos escolher que policiais queremos ser, e que a a sociedade precisa dizer que polícia queremos”, afirmou.
São Paulo
Paula Miraglia também falou sobre violência e segurança, mas usou como principal exemplo a cidade de São Paulo. De acordo com a antropóloga, o município vive uma situação peculiar por alimentar “o ciclo do medo”, em vez de pensar a segurança para garantir o “direito à cidade”.
“São Pulo conseguiu criar bolhas de segurança em espaços que se julgam mais seguros do que outros. É absolutamente ilusória a ideia de bolsas de segurança. Ou a cidade está segura ou ninguém estará. Precisamos desejar essa cidade, querer ocupar a cidade. São Paulo vive com medo. A gente alimenta esse ciclo do medo porque pensa que solução é deixar de conviver. Temos que reconquistar solução para esses espaços públicos, distribuídos pela cidade, que são fundamentais para ter essa ocupação. O papel da polícia também de ser o de pensar a segurança para garantir o direito à cidade, que permita usufruir do espaço urbano”, disse.
Fonte: Último Segundo