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Delegado responsável por proteger o papa no Rio é sócio de empresas de seguran& Postado em 02/04/2013 por SINPEFRN às 00:00

O papa Francisco deverá vir ao Rio de Janeiro em julho, em sua primeira viagem internacional desde que substituiu Bento XVI, no começo de março. Ele rezará missa para 2,5 milhões de fiéis, durante a Jornada Mundial da Juventude. No primeiro dia de visita, desfilará de papamóvel pela Avenida Atlântica, em Copacabana. Mais espontâneo que seu antecessor, o novo papa tende a se aproximar abertamente da multidão de católicos e, assim, exigir cuidado redobrado de policiais. O Ministério da Justiça encarregou o delegado federal Victor Cesar Carvalho dos Santos de coordenar o esquema de segurança do papa, planejado há meses, desde antes da renúncia de Bento XVI. Em janeiro deste ano, Victor Cesar viajou para Roma e se reuniu com autoridades do Vaticano na embaixada brasileira.


Nomeado presidente da Comissão Estadual de Segurança Pública para Grandes Eventos, Victor Cesar é sócio de duas empresas da área de segurança privada, setor interessado na busca de contratos em torno dos grandes eventos no Rio, como Copa das Confederações, Copa do Mundo, Jogos Olímpicos e, claro, a visita do papa. Ele nega, mas, em pelo menos um caso, Victor Cesar se envolveu no que pode dar margem a conflito de interesses. No ano passado, sua empresa foi contratada pelo comitê financeiro do PMDB, na campanha do prefeito reeleito do Rio, Eduardo Paes. Paes estará no centro de muitas decisões importantes relacionadas aos grandes eventos nos próximos anos.


A empreitada privada de Victor Cesar já passou por uma investigação criminal. A própria Polícia Federal, onde Victor Cesar trabalha, abriu inquérito, em agosto de 2009, para investigar crimes de falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. Um policial, que acompanhou o caso de perto afirmou que havia a suspeita de uso de uma sócia laranja numa das empresas de Victor Cesar. A aposentada Janete Gonçalves Bittencourt, de 60 anos de idade, moradora de um bairro de classe média em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, aparecia como administradora e dona de 34% das ações da Projeção Vigilância, Proteção e Segurança, com capital de R$ 110 mil. Victor Cesar tinha 33%. Seu colega, o também delegado Alfredo Dutra da Silva Neto, outros 33%.

Victor Cesar disse a ÉPOCA que Janete apenas figurava na sociedade, porque o terceiro sócio, Joelson de Jesus, irmão dela, estava impedido de entrar no contrato, devido ao vínculo com outra empresa. Com a investigação em curso, Victor Cesar fechou a Projeção Vigilância, em abril de 2010. Criou em seguida e no mesmo endereço a BSA Vigilância e Proteção, agora com Jesus figurando oficialmente na sociedade. A pedido do Ministério Público, o inquérito foi arquivado pela Justiça Federal, em dezembro de 2010. Até hoje, o nome de Janete assombra os negócios do delegado. Na Junta Comercial, ela aparece como sócia de outra empresa da área de vigilância que funciona no mesmo endereço da BSA Vigilância.



Com o inquérito arquivado, Victor Cesar e o delegado Alfredo ampliaram seus empreendimentos em maio de 2011. Além da área de vigilância, passaram ao setor de “consultoria, auditoria, treinamento na área de segurança e inteligência corporativa”. O endereço da BSA – sigla de Business Security Alliance – é o mesmo do delegado Alfredo informado à Junta Comercial.

SEM CONFLITO Valmir de Oliveira, superintendente da  PF do Rio. Ele não viu conflito de interesses no fato de o delegado Victor Cesar ser dono de uma empresa de segurança que prestou serviços  ao PMDB (Foto: Fabiano Rocha/Extra/Ag. O Globo)SEM CONFLITO
Valmir de Oliveira, superintendente da PF do Rio. Ele não viu conflito de interesses no fato de o delegado Victor Cesar ser dono de uma empresa de segurança que prestou serviços ao PMDB (Foto: Fabiano Rocha/Extra/Ag. O Globo)

A nomeação de Victor Cesar para a presidência da comissão de segurança dos grandes eventos ocorreu em maio de 2012, por indicação do então superintendente da Polícia Federal no Rio, Valmir Lemos de Oliveira. Victor Cesar disse que, na ocasião, informou Oliveira sobre sua sociedade nas empresas e perguntou se havia algum problema. “Ele respondeu que já sabia e que, por me conhecer, não entendia haver qualquer problema ou incompatibilidade”, afirmou Victor Cesar a ÉPOCA.


A decisão de Oliveira, nomeado para assumir em breve o posto de adido da PF em Londres, mostra uma mudança de postura na cúpula da Polícia Federal no Rio. Seu antecessor na Superintendência, Ângelo Gióia, foi quem pediu a abertura de inquérito para investigar a empresa de segurança de Victor Cesar. “Ele se tornou meu desafeto, e até hoje não sei o motivo”, afirmou Victor Cesar. Procurado, Gióia preferiu não comentar. Procurado por meio da assessoria da PF no Rio, Oliveira optou por não dar entrevista.


Duas semanas após a nomeação de Victor Cesar, a BSA Vigilância obteve autorização para operar. No Brasil, esse tipo de alvará é expedido pela Polícia Federal, que também fiscaliza as empresas de segurança. Logo depois de obter o aval de operação, a BSA emitiu sua primeira nota fiscal, no valor de R$ 62 mil, por serviços à campanha de reeleição do prefeito Eduardo Paes, em agosto de 2012. No total, o comitê financeiro do PMDB fez quatro pagamentos, que somaram R$ 222 mil.


Victor Cesar disse que não vê conflito de interesses público e privado por ser sócio de empresas, “desde que elas não venham a prestar qualquer tipo de serviço para eventos no qual ele atue como coordenador de segurança”. Ele também não vê conflito nos serviços prestados ao PMDB. “A empresa não trabalhou para o prefeito ou sua campanha, mas sim no comitê”, disse. Sobre a investigação criminal, Victor Cesar afirmou que “o inquérito foi arquivado a pedido do Ministério Público Federal, que textualmente disse não haver o cometimento de qualquer crime”. “O pedido foi apreciado pelo juiz, que entendeu da mesma forma”, disse Victor Cesar. Segundo ele, Janete não pode ser chamada de laranja, pois atuou na administração da empresa.

 

Fonte: Revista Época

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