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''Chefe na PF é expert em relações humanas'' Postado 20120508 por SINPEFRN às 00:00

Muitos servidores da Polícia Federal, certamente, se surpreenderam ao ler no boletim de serviços sobre o “Curso em Habilidades Sociais”, ministrado no final de abril, na Academia Nacional de Polícia (ANP), em Brasília. Sinal de modernização da instituição?

Os objetivos do curso, com 20 horas de duração, proposto pelo Serviço de Psicologia da ANP, dão a medida dos avanços da proposta pedagógica: “desenvolver e aprimorar habilidades sociais voltadas para a qualidade dos relacionamentos interpessoais, enfatizando as competências necessárias às atividades profissionais e pessoais”.


Melhorar as relações humanas e a qualidade de vida no ambiente de trabalho deve ser um anseio da maioria dos funcionários, inclusive da Polícia Federal. Mas o que mais chamou atenção foi o público-alvo definido para o treinamento: “servidores do Departamento de Polícia Federal, lotados em Brasília, que não exerçam função de chefia”.


Não se sabe quem teve a ideia de excluir os chefes do treinamento. De acordo com o “Plano Anual de Capacitação 2012”, divulgado pela instituição no início do ano, o curso foi planejado para os servidores da PF, não fazendo menção a cargo de chefia.


Ou os gestores da PF devem estar planejando um curso intensivo voltado apenas para os chefes, talvez com carga horária dobrada, ou imaginam que aqueles indicados para os cargos já nascem prontos em termos de habilidades sociais. Ou, ainda, que um dos critérios para indicação de chefias - além da competência e meritocracia - seja a capacidade notória de relacionamento interpessoal. Ou quem sabe imaginam que os chefes incorporam as virtudes das boas maneiras, tão logo são nomeados para os cargos?


O conceito de “habilidade social” está relacionado com a busca de satisfação pessoal integrada à preocupação com a qualidade do relacionamento, na definição do psicólogo Hélio José Guilhardi, professor da PUC-SP e diretor do Instituto de Análise de Comportamento, em Campinas.


Nas últimas décadas, a tendência das organizações modernas tem sido investir na valorização dos recursos humanos, tão ou mais importantes que os recursos tecnológicos e materiais. Estudos sobre o tema indicam que funcionários motivados são mais comprometidos e satisfeitos e tendem a realizar mais do que as tarefas básicas.


Quem conhece o cotidiano do ambiente de trabalho de grande parte dos servidores da PF sabe que as relações hierárquicas são autoritárias, fundadas no arcaico lema do “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. O regime disciplinar em vigor foi copiado de regulamentos militares, em 1965.

Assédio moral e disciplinar, perseguições contra representantes sindicais e desmotivação generalizada, definitivamente, não devem fazer parte do mundo encantado dos chefes da PF, doutores em habilidades sociais.

 

Fonte: Agência Fenapef

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