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A ''ética'' da ADPF Postado em 24/09/2012 por SINPEFRN às 00:00

Sob o título “Os planos da Fenapef”, a Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), em nota publicada no seu site, no último dia 21 de setembro, fez uma leitura falaciosa da reportagem divulgada pela “Folha de S. Paulo”, sobre documento interno da federação, elaborado há mais de um ano e meio, cuja interpretação foi desmentida na própria matéria pelo presidente da federação, Marcos Wink.

Na visão alarmista da ADPF, que certamente causaria inveja aos fundamentalistas talibãs, a Fenapef “deliberadamente planejou ataques aos delegados federais” e “tem provocado a cizânia entre as categorias da Polícia Federal, para atingir seus objetivos ideológicos”. A entidade manifestou sua preocupação com a suposta “tentativa de colocar os delegados como alvo de ataques, o que prejudica o diálogo e o ambiente interno de trabalho na instituição”.

 Através da “bombástica” nota, a associação dos delegados, ainda se permitiu palpitar sobre a decisão – autônoma e democrática – tomada pelos 27 sindicatos de policiais federais, de recusar a proposta de reajuste salarial feita pelo governo. A entidade também se mostrou apreensiva com opções que nem lhe dizem respeito. “Em nome de uma política de agressão premeditada ao governo e aos delegados, a Fenapef optou por deixar seus representados sem nenhum reajuste salarial”, alardeou.

Tanta preocupação com o diálogo e o ambiente interno na instituição nem parecem provir da mesma entidade cujo “Código de Ética” recomenda aos delegados que representa, dentre outra condutas consideradas “antiéticas”, evitar “promiscuir-se (grifo nosso) com subordinado hierárquico, dentro ou fora de suas funções”. Tanto pavor também não combina com uma associação cujo presidente defende um modelo militarista de hierarquia e disciplina.

Embora não se saiba se é filiado à ADPF, os comentários preconceituosos, feitos pelo delegado Eduardo Adolfo do Carmo Assis, ex-chefe da PF em Vitória da Conquista (BA), explicitam a postura dissimulada de parte dos que se autodenominam “classe dirigente” da PF.

A manifestação do delegado, divulgada há poucos dias, através de redes sociais, foi feita após o envio de uma nota à imprensa, pelos agentes, escrivães e papiloscopistas da PF em Vitória da Conquista (BA), sobre as reinvindicações dos policiais federais em greve.

Pelo que revela de desrespeito e preconceito ao trabalho dos policiais federais tidos como “subalternos”, e sobre os reais fomentadores da discórdia entre os cargos da mesma carreira policial federal, o texto do delegado, removido recentemente para a Corregedoria-Geral da PF, em Brasília, merece a transcrição na íntegra:

Sem qualquer demérito ou desonra para o trabalho braçal ou de execução, o DPF, e acredito que qualquer polícia do mundo, precisa de agentes, escrivães e papiloscopistas para as seguintes funções, não necessariamente na ordem que segue: segurança, chapa, auxiliar de enfermagem, coveiro (de vez em quando precisamos recolher cadáver), motorista, mecânico, secretário, digitador, carteiro, olheiro, aeromoça, leão de chácara, piloto, navegador, faxineiro, armeiro, lenhador, soldado, recepcionista, mensageiro, ordenança, dentre outras (quaisquer outras missões legais que lhes forem pagas).

Salário digno? Sim. Afrontar quem tem função de comando, planejamento, supervisão, controle (não existe organização sem controle) e, sobretudo, responsabilidade? Não. Salário igual aos que mandam que eles executem as funções acima? Não.

Para citar frase que ouvi muito na Academia (Nacional de Polícia): "o Departamento (de Polícia Federal) não foi na casa de ninguém pedir para fazer concurso". Fez porque quis, sabedor das atribuições do cargo, as quais jurou cumprir. Se quer outras funções, basta se inscrever para outro cargo, e conseguir passar em certame aberto a todos. Meritocracia. Concurso público, e prestígio ao mérito intelectual, que já é o primeiro discrímen entre as funções de comando e execução.

Essa greve da nossa tropa é uma quartelada. E ainda têm o desplante de irem aos aeroportos, armados, para intimidar a população, alheios a uma das nossas garantias fundamentais do art. 5º: "TODOS PODEM SE REUNIR PACIFICAMENTE, SEM ARMAS" (grifo dele). Aos que gostam de vociferar pelo direito de greve, é bom lembrar dessa garantia também.”

Após a repercussão negativa, o delegado Assis alegou que o comentário foi “jocoso” e que não passou de uma “brincadeira”.

Outro comentário divulgado através do Facebook, na semana passada, cujo autor se identificou como delegado Bruno, suposto chefe de um setor na PF, também ilustra o desrespeito e o menosprezo ao trabalho dos escrivães, papiloscopistas e agentes (EPA´s), que atuam na área de inteligência policial:

“Cumpre esclarecer que o único conhecimento específico exigido dos EPAs para o desempenho da funçāo de monitoramento telefônico é ser alfabetizado para poder ouvir e transcrever o conteúdo das ligações para posterior análise e avaliaçāo da AUTORIDADE POLICIAL (grifo dele) quanto à relevância jurídica do fato. Essa é uma das atividades de nível superior desempenhadas pelos EPAs, bem como entregar intimações, digitar ofícios, cumprir despachos e coletar impressões digitais”, escreveu o suposto delegado.

Os delegados que se atreveram a manifestar apoio às reivindicações dos policiais foram patrulhados por sua associação. Talvez pelo receio de que sua legitimidade fosse colocada em xeque pela categoria que representa, a ADPF chegou a orientar seus associados “a evitar qualquer entendimento ou compromisso com os sindicatos filiados à FENAPEF”.

A despeito dos temores infundados e da noção enviesada de “ética” da ADPF, bem como da visão singular de “harmonia” de alguns delegados da PF, a Fenapef vai continuar criticando os desmandos, privilégios, perseguições e posturas autoritárias de gestores, independente dos cargos que ocupem.

Promover a valorização dos servidores da Polícia Federal, lutar permanentemente pela democratização do órgão e combater todas as ações e posturas antidemocráticas e opressivas são alguns dos objetivos previstos no estatuto da Fenapef, fruto da vontade de seus sindicatos filiados e dos mais de 12 mil policiais federais que representam. São somente a eles que devemos obediência.

Fonte: Agência Fenapef

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